Não está a ser fácil, mas o Francisco largou a fralda.Agora tem catrefadas de cuecas que estão constantemente a ser lavadas. Já passámos a fase de fazer chichi e não se importar por estar molhado, para a fase de avisar quando já está a fazer. Eu tento não stressar, afinal é só roupa molhada, mas a verdade é que não consigo. Em casa já tudo corre bem... desde que meti os bonecos dele, com um seringa, a fazer chichi na sanita e ele a colar autocolantes cada vez que é bem sucedido que a coisa corre lindamente. Mas fora de casa...E não ajuda nada as histórias todas que me rodeiam, de mães cujos filhos largaram a fralda com um ano e meio e só fizeram uma ou duas vezes pelas pernas a baixo. Será que é a memória que as traí ou são todas mães de filhos prodígio? É que o meu (e que fique aqui registado, para que mais tarde não venha a dizer que com o meu foi muito fácil) farta-se de fazer chichi nas cuecas e mesmo cocó. (ou devia fartar-se) Não são nada poucas vezes... são MUITAS VEZES!!!!! vezes sem conta....
Chamo o elevador e entro com o Francisco. Carrego no -2. Ele pára no 1º andar e entra um casal todo composto. Casal: "bom dia!" Eu: "bom dia!" O belo do Francisco, que normalmente nem liga nenhuma a estranhos, encosta-se a mim e começa a cantar alto e em bom som: "trailari, trailaró... o cú da avó..." Eu:... Casal:.... Os senhores saiem no zero e dizem novamente "bom dia". O Francisco responde alegre "até logo!". Continuamos a descer e eu digo ao Francisco que ele não pode cantar aquilo, muito menos quando estão outras pessoas. Ele dá uma gargalhada contagiante e responde: "trailari, trailaró, o cú da avó!"
- Francisco, sabes o que está dentro da barriga da mãe? - Não sei... - É a mana. - ah - É um bebé! olha para mim admirado e depois conclui com a maior naturalidade: - Tu és tonta mãe!
O dia da Criança passou sem que oferecesse uma prenda ao meu filho. O do ano passado passou igual. A não ser que o facto de o teu levado ao médico para assistir a uma ecografia e ver a futura irmã (parece que é uma menina) conte como prenda. Ou tê-lo entregue nesse dia à avó para ir ao oceanário também conte... ou o facto de estar connosco, ser amado, receber milhões de beijos também possa contar. Nesse dia eu estava contente. Nesse dia 1 de Junho a mãe de um coleguinha do Francisco, com mais 15 dias que ele, chorava a morte do filho. E eu também estava triste. E contente por ver o meu cheio de vida. E triste por uma criança tão frágil simplesmente partir e por uma mãe poder ter um coração tão partido. A vida realmente foge-nos entre os dedos... é frágil. Vê-lo de perto é assustador, mas faz-nos pensar. Já li em não sei quantos livros e mais não sei quantos talk shows na televisão que não devemos ser mesquinhos, mas sim estar contentes só pelo simples facto de vivermos. Todos os dias olho para o meu filho e agradeço que o mundo tenha conspirado para que ele existisse e que esteja comigo. É um presente gigantesco que me enche o coração e a alma e ainda transborda. Obrigado.