Eu não tenho mão nela! Na verdade nunca tive!
Pode parecer estranho dizer isto enquanto mãe, mas a verdade é que a maior parte das vezes a minha filha não me obedece.
Imagino outras pessoas a pensarem "que vergonha! Tu és a mãe e ela tem que obedecer. Se eu mandasse o meu filho tomar banho e ele não fosse... Eles têm que saber quem é que manda! As crianças precisam de limites!" Uma vez ouvi mesmo uma mãe dizer à frente da filha "se fosse a minha Filipa levava uma palmada, não é Filipa? Conta lá como é que a mãe te faz. Essas birras são uma vergonha!"
Desde que a Mafalda nasceu que eu tento compreende-la. Ela é muito diferente do irmão e o irmão é muito parecido comigo em personalidade. Logo... normalmente sei como chegar ao Francisco, sei o que funciona com ele... basta-me pensar o que funcionaria comigo. Com a Mafalda já não é tanto assim.
Muitas vezes chocávamos e ela acabava por fazer as coisas contrariada e comigo chateada depois de me ter passado e acabado por levantar a voz. Mas não é assim que quero educar os meus filhos.
A minha filha, com o poder dos seus 6 anos responde-me "ninguém manda em ninguém!" E sabem que mais... fui eu quem lhe ensinou esta frase, por isso mereço recebe-la de volta. A verdade, é que me ponho a pensar neste assunto e questiono porque é que queremos educar os nossos filhos a obedecer simplesmente porque somos pais. A obedecer simplesmente porque a pessoa que lhe fala é seu professor ou porque é mais velha, ou porque é tio ou avô, ou porque um dia será um patrão a mandar. E se não será mais interessante ensiná-los a questionar o que lhes é pedido. A terem vontade própria e perceberem que cada atitude leva a um resultado diferente. E que não existem culpas, mas responsabilidades! E a não fazerem nada sobre pressão ou contrariados. Porque se é assim que quero que ajam em adultos, quando lhes vou ensinar essas ferramentas?
Assim como ensinei os meus filhos que ninguém manda em ninguém, também lhes ensinei que cada atitude tem uma consequência e se as tomamos temos que ser responsáveis pelo seu resultado. Como diz o Francisco "cada caminho leva a um lugar diferente!"
Então negoceio. E com ela parece funcionar. E comigo também!
- Mafalda anda tomar banho!
- Não quero! Quero acabar isto!
- Ou vens agora e tens ajuda, ou acabas isso mas depois tomas sozinha.
E ela decide. E escolhe a melhor opção para ela. Nem sempre acha a solução perfeita e muitas vezes reclama, mas escolhe e cumpre.
A minha filha muitas vezes não me obedece. Mas não é uma menina mal educada. Não falta ao respeito a ninguém e não faz nada que saia do seu "mundo" sem pedir autorização. Refila muito, tem uma personalidade super forte, sempre soube o que quer sem se deixar influenciar, mas respeita o outro e preocupa-se. Tem um amar doce.
Sou a maior fã da Mafalda. Admiro-a com todo o amor que tenho em mim.
Eu quero que ela cresça com uma auto-estima forte, confiante nela própria e com capacidades para escrever a sua própria história. Na verdade, quero o que qualquer pai quer, que ela seja feliz! Mas a vida não é só o futuro. A vida é agora! O que faz sentido é ela ser feliz agora. E sermos felizes as duas juntas. Então faço como a água, deixo fluir e adapto-me aquilo que ela é.
Atenção, com este texto não quero dizer que não hajam regras e que os meus filhos façam tudo o que têm vontade. Nem mesmo que não nos zangamos às vezes. Só quero dizer que, tal como qualquer criança, são seres com ideias e vontades próprias e que obedecer, não me parece o valor mais fundamental do mundo na educação.